Valores indígenas
Nas sociedades indígenas, a terra é propriedade coletiva. Dessa maneira, todas as famílias têm acesso e nela trabalham. A finalidade das atividades produtivas é o bem-viver e não o lucro e o acúmulo.
As sociedades indígenas praticam o envolvimento entre as pessoas e com a natureza. A convivên-cia, no sentido de ´viver com os outros´, homens e mulheres, a terra e a natureza, é o ideal de vida. A base da economia indígena é a reciprocidade. As práticas de troca são motivadas pela religião, no sentido de comunicação, onde a economia está inserida numa dimensão de festa e de alegria. Nessa economia, podem ser consideradas três características pelas quais ela é diferente da economia do mercado: não é competitiva, acumulativa e nem preventiva. A economia indígena é um sistema de comunicação de bens. É comunicação, fazendo parte de todo um complexo sistema de redistribuição.
Em seus territórios, os povos indígenas constroem projetos de vida centrada nas pessoas, criam e recriam seus conhecimentos, sua sabedoria, seu espírito comunitário
(Texto-Base, nn.143-149).
Não se trata, evidentemente, de reproduzir, na complexidade da sociedade moderna, modelos que podem ser realizados só em grupos pequenos, isolados, nem de idealizar os povos indígenas, como se tudo neles e nas suas culturas fosse perfeito. Trata-se de recuperar valores que nosso mundo, chamado cristão, perdeu e deixar-se “evangelizar” por esses povos que talvez não sejam “cristãos”, mas têm uma “Boa Nova” a nos comunicar.
Nesse contexto, entra toda a problemática da inculturação e do diálogo inter-religioso, porque é só no respeito da diferença que pode acontecer a descoberta dos valores dos povos indígenas, a troca, o caminhar juntos e a construção comum de uma sociedade em que todos tenham lugar. Quando estes povos lutam para defender sua causa, têm clara consciência de que a solução depende da sua união com todos os marginalizados (desempregados, sem-teto, sem-terra, meninos de rua, trabalhadores escravos...). “Quando todos nós, os oprimidos – escreve Maninha Xukuru-Kariri, líder indígena do Nordeste – estivermos unidos, vamos corrigir essa história e construir um mundo melhor, para nossos filhos e também para os filhos de quem nos tem oprimido, uma sociedade justa para todos”.
“Por uma terra sem males” é o lema da CF-2002. Refere-se a um mito profundamente enraizado nos povos indígenas, sobretudo os tupi-guaranis, pelo qual eles se movem continuamente em busca de uma terra livre de dor, sofrimento e de morte, chamada “terra sem males”. É a esperança que poderá alimentar a todos, se compartilharmos sua visão de vida e de sociedade, se solidarizarmos com suas lutas, se acreditarmos na realização de um projeto de sociedade alternativo, onde a palavra central seja fraternidade.
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